O Caminhos da Reportagem apresenta a matéria especial "A
luta pela abolição" neste domingo (15/05), às 22h, na TV Brasil. A edição
inédita do jornalístico analisa como escravidão ainda ecoa na sociedade
brasileira.
O programa traça um panorama sobre o processo que culminou
com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel há 134 anos, em 13 de maio
de 1888. A atração da emissora revisita esse período da história.
A iniciativa que extinguiu a escravidão no país é lembrada na
produção realizada pela TV Feira, afiliada da TV Brasil na Rede Nacional de
Comunicação Pública (RNCP). O Caminhos da Reportagem conta episódios marcantes
e indica algumas das consequências daqueles acontecimentos para o país.
O Brasil foi o local na América que mais recebeu negros
cativos: 4,86 milhões de africanos escravizados, entre os séculos 16 e 19. A
informação é do Banco de Dados do Comércio Transatlântico de Escravos, que
reúne dados de mais de 35 mil viagens de navios negreiros.
Os principais pontos de partida de um negro escravizado que
chegava no país eram Rio de Janeiro e Salvador. Locais onde até hoje a cultura
afrodescendente é forte. Na Bahia, muitos negros foram levados para o interior,
para cidades como Feira de Santana.
Naquela região, um escravo fugitivo fez história: Lucas da
Feira. Precursor do cangaço, ele formou um bando que aterrorizou o território e
ousou a desafiar o sistema da época para viver em liberdade. Lucas acabou sendo
preso pela polícia e morto enforcado em 1849.
O personagem histórico é uma figura que simboliza a rebelião
contra o sistema escravocrata em Feira de Santana. "Eles estavam lutando
contra uma estrutura violenta e essa era uma reação a essa estrutura, que
tentou tirar dele o direito de ser humano e de ser livre", explica a
pesquisadora Eliane de Jesus Costa.
Na história pela liberdade, também entram os quilombos,
sempre lembrados pelo icônico Quilombo dos Palmares, liderado por Zumbi, que
chegou a reunir 20 mil escravos fugidos no interior de Alagoas. A historiadora
Railma dos Santos veio de uma comunidade remanescente de quilombo, na Bahia.
Nessa edição do Caminhos da Reportagem, a estudiosa explica
que várias memórias e legados culturais daqueles tempos permanecem latentes.
"São tradições que perpassam a escravidão, mas a experiência negra rural
do Brasil, como o samba de roda, a bata do feijão, entre outros", conta
sobre costumes locais.
Quando houve a abolição da escravatura, havia uma expectativa
por parte da população negra de inclusão social. E não foi o que aconteceu. Mas
a partir daí, também, começaram a surgir um movimento negro de ajuda aos
negros. Prova disso é a Irmandade dos Homens Pretos, de Salvador, que foi
responsável pela construção da Igreja do Rosário dos Pretos, símbolo do
sincretismo religioso no Pelourinho, em Salvador.
Antes mesmo da abolição, a Irmandade já se organizava para
dar apoio à comunidade negra. "A irmandade começa a angariar fundos para
comprar a liberdade de negros escravizados e também para poder cuidar do
sepultamento deles", destaca William Justo, primeiro-secretário da
Irmandade, que existe até hoje.
O Caminhos da Reportagem registra diversas atividades
características que podem ser encontradas nas ruas do Recôncavo Baiano que
remetem à herança desse momento histórico como o bembé do mercado e o samba de roda.
Mistura de dança, luta, artes marciais e música, a capoeira
também tem destaque na matéria dominical. Da proibição, nos tempos da
escravidão, para Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, da UNESCO, a
capoeira acompanhou a luta pela liberdade dos negros no país.
O programa exibido pela TV Brasil traz o depoimento do mestre
de capoeira Ronaldo Santos Rosa. Ele aponta a prática como uma grande
propaganda para o Brasil no exterior. "É o maior agente de língua
portuguesa. Eu já vi um japonês, no Japão, cantando em português porque
praticava capoeira", afirma.