Neste domingo (18/04), às 20 horas, na TV Brasil, “Caminhos
da Reportagem” investiga a importância do Sítio Roberto Burle Marx para o
paisagismo mundial.
O Sítio, onde o mais famoso dos paisagistas brasileiros
Roberto Burle Marx morou e fez experimentos, é candidato a entrar para a lista
do patrimônio mundial da Unesco neste ano. Localizado em Barra de Guaratiba, na
Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, a propriedade abriga uma coleção de
mais de três mil e quinhentas espécies de plantas de regiões tropicais e
subtropicais.
O programa conta que Burle Marx comprou a propriedade em
parceria com o irmão, Siegfried, em 1949, e fez dela um laboratório para conhecer
o comportamento da flora brasileira, até então pouco valorizada nos projetos
paisagísticos. A partir dessas experiências, ele criou o jardim tropical
moderno, que representou “uma mudança de
paradigma no paisagismo, uma grande contribuição para a humanidade”, explica a
diretora do sítio, Claudia Storino.
Boa parte das plantas que podem ser vistas no sítio hoje veio
das excursões que Burle Marx fazia pelos diversos biomas brasileiros. O
arquiteto paisagista José Tabacow participou de várias delas, primeiro como
estagiário e depois como sócio de Burle Marx. Ele relembra que a única situação
que deixava o amigo irritado durante as viagens eram os flagrantes de
destruição do meio ambiente.
O auxiliar em preservação e defesa ambiental, Sinval Pereira
Filho, que começou a trabalhar no sítio aos 20 anos, ainda sob o comando de
Burle Marx, conta que nessas expedições o paisagista chegou a descobrir cerca
de 50 novas espécies, muitas batizadas com o seu nome, como o orthophytum
burle-marxii.
Na visita ao sítio também é possível apreciar como o
paisagista aproveitou materiais de prédios demolidos em calçamentos, cascatas,
portas e fachadas na propriedade. “Ele foi precursor em muitas coisas”, diz a
educadora Suzana Bezerra, que apresentou o espaço à equipe do Caminhos da
Reportagem e ressaltou a genialidade do artista.
Na casa onde Burle Marx morou são preservados alguns objetos
pessoais, como óculos, roupas e calçados, assim como um vasto acervo de obras
do paisagista, que era um artista de múltiplas faces: pintor, escultor,
designer de joias e até cantor de ópera. A professora de História da Arte da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Vera Beatriz Siqueira, avalia
que tanto no paisagismo quanto na pintura a produção de Burle Marx mantém
vínculos com as tradições culturais. “Ele cria uma espécie de ambiente que eu
chamo de ecologia da forma moderna”, explica a professora.
As salas também abrigam a coleção de arte popular que Burle
Marx adquiriu ao longo da vida. A auxiliar de serviços gerais, Maria Goreti
Ferreira de Lima, que começou a trabalhar na casa durante os preparativos para
a festa de 80 anos do paisagista, diz que limpa as peças com mãos de seda e
zela para manter viva a memória do Seu Roberto, como se refere a ele.
Preocupado com a preservação do seu acervo, Burle Marx doou o
sítio ainda em vida para o governo federal, em 1985, nove anos antes de morrer.
Hoje o espaço está sob a responsabilidade do Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional, o Iphan.
Carlos Alberto Moreira da Silva, coordenador da manutenção do
acervo botânico, conta que o desafio dos funcionários mais antigos agora é
preparar os mais novos para cuidar desse presente deixado pelo paisagista. “As
pessoas precisam saber disso aqui pra dar o valor que o sítio tem e merece”,
afirma.
Já a herdeira do escritório de paisagismo criado por Burle
Marx, a paisagista Isabela Ono comemora a candidatura do sítio a patrimônio
mundial. No fim de 2019, ela e os dois sócios criaram o Instituto Burle Marx
com a finalidade de tornar público também o acervo de projetos, croquis, fotos,
maquetes, entre outras peças, que pertencem ao escritório. “Estamos na torcida.
Só junta forças pra celebrar esse legado tão importante e tão grande que o
Burle Marx deixou pra nós”, diz Isabela.
Por conta da pandemia, a reunião do Comitê do Patrimônio
Mundial da Unesco será realizada online entre os dias 16 e 31 de julho.