Neste domingo (04/04), às 20 horas, na TV Brasil, a edição
inédita do “Caminhos da Reportagem” investiga o submundo dos crimes cibernéticos,
que se multiplicaram no Brasil durante a pandemia de Covid-19, com mais pessoas
conectadas à internet. O programa entrevista vítimas e conversa com
especialistas em segurança sobre os chamados golpes virtuais, que apesar de já
existirem desde antes da pandemia, agora contam com táticas mais elaboradas de
execução.
O Brasil é o quarto país mais afetado por ciberataques no
mundo, de acordo com Fabio Assolini, analista sênior de segurança da empresa
Kaspersky, especializada em segurança para internet. Mais de 5 milhões de
brasileiros foram vítimas de crimes de clonagem de WhatsApp em 2020, segundo
levantamento da PSafe, empresa de segurança digital.
A jornalista Michelle Souza, de Brasília, foi uma das vítimas
desse golpe. Ela estava conversando com contatos no WhatsApp quando recebeu uma
ligação. Uma pessoa a convidou para um evento. Michelle seguiu as instruções
que eram passadas pelo telefone: clicou em um link, que gerou um código por
SMS, e informou o código à pessoa.
No golpe de WhatsApp, o criminoso induz a vítima a lhe
informar um código recebido por SMS e com isso consegue ativar o WhatsApp da
pessoa em outro aparelho. Assim, começa a interagir com os contatos dela,
simula uma situação de emergência e pede dinheiro emprestado. Quando o golpista
pediu dinheiro em nome de Michelle, um amigo dela não imaginou que poderia ser
um golpe e transferiu cerca de 6 mil reais.
O presidente da SaferNet Brasil, Thiago Tavares, explica que
todas as redes sociais, as plataformas de e-mail e os mensageiros instantâneos,
como WhatsApp e Telegram, contam com um recurso que permite ativar um segundo
fator de autenticação para comprovar que você é você mesmo.
Como os golpes costumam ser “atualizados”, um dos temas do
momento é a vacina contra a Covid-19. Golpistas usam o nome do Ministério da
Saúde e das Secretarias de Saúde para enganar pessoas pelo WhatsApp. Chegaram a
criar um perfil falso do secretário de saúde do Maranhão, Carlos Lula, também
presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). “O golpista
dizia ‘sobraram algumas doses do lote das vacinas. Você não quer adquirir para
o seu município?’ E pedia um valor para que fizesse essa entrega. Obviamente
absurdo. As doses de vacina são públicas, são gratuitas”, relatou o secretário.
Ao longo da pandemia, houve ainda um aumento de crimes
relacionados à honra, à imagem e à dignidade das pessoas, segundo a SaferNet
Brasil, que apontou um pico de casos envolvendo vazamento de imagens íntimas de
nudez.
A fotógrafa Karim Kahn teve seu aparelho de celular roubado.
No momento do roubo, o aparelho estava desbloqueado. Ela recebeu uma ameaça:
caso não passasse os dados do banco e as senhas, uma foto dela de topless, que
estava no celular, seria divulgada em seus grupos de Whatsapp. A ameaça foi
concretizada. “Fiquei com muita vergonha. No primeiro dia que eu voltei para o
trabalho, sabe, de cabeça baixa, pensando é o meu corpo, o que vão falar de
mim?, revela.
O número de reclamações por vendas online aumentou em 400%,
segundo o presidente do Procon de São Paulo, Fernando Capez. “Um número
significativo dessas reclamações eram golpes”, diz.
Camila de Abreu, publicitária que mora em Brasília, foi
vítima de golpe ao comprar um celular pela internet. Depois de conversar muito
com o vendedor e tirar todas as dúvidas, ela fez a transferência bancária. “Na
hora que eu depositei, uma coisa me dizia que ainda não estava certo. Foi
quando eu tive a curiosidade de pegar o CNPJ da empresa que ele me passou,
joguei na internet e vi que era falso”, conta Camila.
Para que os brasileiros sejam menos afetados pelas fraudes
virtuais, uma das saídas apontadas por especialistas passa pela educação. A
equipe do programa visitou uma escola onde a educação digital faz parte do
currículo. “Quando você tem um jovem que entende um pouco mais de tecnologia,
os pais, que talvez não entendam tanto, as tias, os avós, responsáveis, eles
vão procurar esse jovem para tirar dúvidas. O caminho para a mudança é a
educação”, defende o professor Felipe Azevedo.