Prestes a completar 50 anos, a convidada reviveu momentos de
sua trajetória e compartilhou com Gimenez as dificuldades enfrentadas durante a
juventude envolvendo preconceito e homofobia. “No começo, achavam que era uma
brincadeira de criança. No dia que fiz seis anos de idade eu falei que queria
uma boneca de presente e me disseram: Você é um menino, não pode ter uma
boneca. Então, eu pedi um boneco. Foi o primeiro contato que tive com essa
coisa da realidade, de não poder ser o que penso que sou. Foi nessa hora que a
consciência começou a bater”, relembrou. “Repeti três vezes a primeira série
por não conseguir estudar por causa do bullying. Eu era muito menininha. Sofri
muito durante toda essa fase", comentou.
A jornalista possui dois filhos, um adotivo e um biológico, e
lamentou não ter participado de maneira ativa da vida escolar de ambos durante
a infância por medo da possibilidade de perseguição envolvendo os colegas. “Quando
eles tinham sete anos eu já era a Léo Áquilla. Nunca fui buscá-los no colégio,
por exemplo. No Dia dos Pais, eu não podia ir porque não queria que ninguém
soubesse e os instruí a não dizer que eram meus filhos, e eles nunca disseram.
Ao invés de sacrificá-los, eu me sacrifiquei”, desabafou.
Emocionada ao falar dos herdeiros, ela revelou ainda um dos
momentos mais marcantes de sua história. “Quando meu filho mais velho tinha
nove anos, ele virou para mim no carro e falou: Papai, posso te fazer uma
pergunta? Você é veado?, e eu perguntei se ele sabia o que é ser um veado.
(&) Ele respondeu que não sabia. Falei: Quando você souber o que é eu te
respondo. Um ano depois ele me perguntou se eu era gay, eu questionei se ele
sabia o que era ser gay e ele me explicou direitinho. Logo, eu disse: Agora
que você já sabe, se eu te responder que sim vai mudar alguma coisa?, e meu
filho me deu a resposta que mudou a minha vida. Ele falou para mim: Não, porque
eu te amo. Então, não importa. Aquela resposta foi o que me encorajou para que
eu chegasse aonde estou hoje, para eu me assumisse, porque ali eu vi que ele
não ia me desamparar, não ia deixar de me amar e ia me respeitar”, frisou.