Realizado pelo SescTV, o documentário inédito Rito do Amor
Selvagem aborda performance homônima escrita e dirigida pelo romancista,
cineasta, dramaturgo e artista multimídia José Agrippino de Paula em parceria
com Maria Esther Stockler. A obra inovou o teatro brasileiro, em 1969, no Theatro
São Pedro, em São Paulo, ao misturar diferentes vertentes da arte, como dança,
teatro e performance. Dirigida por Lucila Meirelles, com trilha sonora de Cid
Campos, a produção traz áudios originais de Agrippino e vai ao ar no canal nesta
sexta-feira (20/09), às 23h.
A performance Rito do Amor Selvagem foi inspirada na peça As
Nações Unidas, também escrita por José Agrippino, que mesclava música, história
em quadrinhos e dança moderna, produzindo um resultado estético que flertava
com a pop art, a contracultura e a ritualística afro-brasileira. Para conceber
a obra, o artista teve a participação da sua mulher, a coreógrafa Maria Esther
Stockler.
“A Maria Esther dirigiu grande parte e eu fiz também parte do
roteiro, conta Agrippino em um dos áudios ilustrados com imagens da época. De
acordo com ele, o Theatro São Pedro lotava todos os dias. As pessoas
ficaram excitadas com o acontecimento”, diz o artista que morreu em 2007 aos 70
anos.
O documentário conta com depoimentos de pessoas que
trabalharam no espetáculo e amigos de Agrippino e Maria Esther, como os atores
Sérgio Mamberti e Stênio Garcia, os cineastas Jorge Bodansky e Hermano Penna, o
músico Tom Zé, entre outros.
Os entrevistados falam da importância da obra para o teatro
no Brasil. Anárquica e, ao mesmo tempo, inventiva, um ritual em clima
antropofágico, libertadora, inovadora e atual. Estas foram algumas definições
usadas por eles para a montagem realizada na época em que o país vivia o Regime
Militar.
Segundo Mamberti, foi uma performance de contracultura, com
linguagem genuinamente brasileira. “Um espetáculo que revolucionou o teatro”,
relembra Stênio Garcia, o intérprete mais experiente da obra. Ele deu vida a 12
personagens junto com o Sonda - grupo teatral formado por atores profissionais
e amadores -, que encenou a peça.
Para Hermano Penna, Rito do Amor Selvagem tinha um cruzamento
de signos culturais que anunciavam o tropicalismo, que teve Tom Zé como um de
seus principais expoentes. O músico rememora nomes que integraram esse
movimento cultural brasileiro surgido no final da década de 60, como os poetas
Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, o artista plástico
Hélio Oiticica, os cantores e compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, e,
claro, José Agrippino de Paula, que se destacava com Rito do Amor Selvagem e
com o livro PanAmérica, obra importante para o desenvolvimento da Tropicália.
Todos os entrevistados do documentário: Sérgio Mamberti,
Stênio Garcia e Claudia Alencar, atores; Tom Zé, Carlos Bogossian e Norton
Lagoa, músicos; Gerald Thomas, diretor de teatro; José Roberto Aguilar e
Antônio Peticov, artistas plásticos; Jorge Bodanzky e Hermano Penna, cineastas;
Jotabê Medeiros, jornalista; Míriam Chnaiderman, psicanalista e documentarista;
Inês Stockler, cantora lírica; Celso Favaretto, professor de filosofia da USP;
e Glauco Arbix, professor de sociologia da USP.
A produção é da Armazém Mídia Artes.