Dando continuidade à programação Territórios Indígenas, que
exibe filmes sobre diferentes etnias indígenas em diversas regiões do País, o
SescTV exibe Yuxiã (2017, 26min) e Índios no Poder (2015, 21 min). O primeiro,
com direção de Nawa Siã e Siã Inubake, é um documentário sobre o espírito e a
força ancestral de cura, presente na natureza. O segundo, dirigido por Rodrigo
Arajeju, mostra a luta das nações indígenas por representação e garantia de
direitos no Congresso Nacional. As produções, inéditas no canal, vão ao ar nesta
sexta-feira (24/05), a partir das 23h.
No curta Yuxiã, Txana Mashã, habitante da aldeia Mawaisá,
localizada às margens do Rio das Araras, aprende a usar o poder da medicina da
floresta para se tornar um yuxiã, pajé mediador entre os humanos e os seres
encantados. Sua avó, Dani, quando jovem, via espíritos se manifestarem em seus
pais, os antigos pajés da aldeia. Segundo ela, quando os espíritos levavam o
yuxiã, os parentes o traziam de volta. Passavam remédio até ele voltar ao
normal. Com o nixi pae, uma bebida sagrada extraída de um cipó, os sacerdotes
da floresta retiravam os maus espíritos das pessoas, “eles faziam a cura com um
sopro”, diz Dani.
Durante o filme, o pajé Mashã faz um ritual de cura em um
bebê da aldeia. Em frente à criança, ele canta evocando as forças da natureza,
bebe o nixi pae e fuma uma espécie de cachimbo. Assoprando a fumaça, o pajé
pede para que o pensamento do garoto seja animado e seu espírito trazido de
volta. “Eu assopro, mas quem me ajuda é o Epã Kuxipa, nosso pai superior”,
explica Mashã. Ele também acredita que os remédios tinham forma de corpos
humanos, mas depois se transformaram em “medicina” e ficaram plantados em seus
caminhos. Por isso têm a natureza de encantados. “Para você poder pegar o
remédio tem que pedir. Eles têm espírito”, diz o pajé.
Na sequência da exibição de Yuxiã, o documentário Índios no
Poder resgata a trajetória do Cacique Mário Juruna, único líder indígena
brasileiro a assumir um mandato no Congresso Nacional, desde 1980. A produção
também relata a luta dos povos indígenas pela demarcação da terra e por
representatividade política. Eles clamam por seus direitos e pela necessidade
de adaptação aos tempos modernos. Segundo eles, os índios devem lutar sem o
arco e a flecha. “Hoje não é mais aquele tempo. Hoje nós queremos o Ministério.
E nós queremos que o índio seja presidente da Funai”, diz Juruna.
No filme, os povos indígenas reivindicam por justiça e
ressaltam o fato de que entre os anos de 2003 até 2010, 289 líderes indígenas
Kaiowá Guarani foram exterminados em conflitos por território. O documentário
mostra ainda as manifestações dessas lideranças na Esplanada dos Ministérios em
Brasília; a histórica entrada dos índios durante uma sessão na plenária do
Congresso Nacional; além de trazer depoimentos de líderes indígenas, como
Ailton Krenak, que questiona: “Por que os povos indígenas não têm o direito de
ficar aqui dentro? Todos podem entrar aqui, inclusive aquelas pessoas que vêm
para vender o Brasil”.