Cidade e Migrações, oitavo episódio da série a Cidade no
Brasil, discute os deslocamentos externos e internos de pessoas responsáveis
pela formação e configuração das cidades no país. São indígenas, europeus,
africanos e tantas outras populações que fizeram das urbes brasileiras o que
elas são hoje: uma mistura de etnias e culturas. Com direção da cineasta Isa
Grinspum Ferraz, o documentário inédito será exibido nesta quarta-feira
(22/05), às 21h, no SescTV.
No episódio Cidade e Migrações, Antonio Risério proclama:
“Somos todos imigrantes”. O antropólogo afirma que mesmo os indígenas não têm
suas origens no Brasil, já que eles vieram de remotas migrações paleoasiáticas.
“Ao que tudo indica, a terra atualmente brasileira foi habitada antes deles por
grupos de negroides, como de Luzia, em Minas Gerais”, comenta se referindo ao
fóssil humano mais antigo do Brasil e das Américas, com cerca de 12.500 anos.
Risério também fala sobre migrações primárias e secundárias.
Ele explica que a primeira é representada pelos grupos procedentes de terras
orientais, como Portugal e o Continente Africano, e a segunda se refere às
etnias que já estavam em algum lugar do país e se deslocaram para um outro,
como os Tupis. “Eles não eram originalmente litorâneos, migraram para a beira
do mar”, lembra.
A vinda de estrangeiros para o Brasil, como japoneses,
coreanos, bolivianos e, mais recentemente, do Continente Africano e do Oriente
Médio, e os deslocamentos dos próprios brasileiros em seu país são citados pela
antropóloga Bela Feldman Branco como importantes para a formação das
metrópoles, por suas diferentes culturas. Entretanto, ela ressalta a delicada
situação dos migrantes que vivem em ocupações, em cidades como São Paulo.
Para o arquiteto e urbanista Guilherme Wisnik, a globalização
coopera com o aumento da migração, facilitando o trânsito das pessoas e o
intercâmbio de conhecimento cultural, o que, para ele, tem um sentido
democrático. Porém, Wisnik acredita que há um outro lado da moeda: o
nivelamento cultural provocado pela indústria da cultura, que destrói as
tradições nativas. “Esse é um processo de perda cultural terrível”, esclarece.
O climatologista Carlos Nobre destaca a migração de
populações oriundas das regiões Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, nas décadas
de 70 e 80, para a Amazônia, em busca de uma vida melhor. De acordo com ele, os
atrativos foram a pecuária, na zona rural, o Polo Industrial de Manaus e,
principalmente, projetos de assentamentos.
Já José Eli da Veiga, professor do Instituto de Energia e
Ambiente da Universidade de São Paulo, recorda o crescimento rápido do êxodo
rural brasileiro nessas décadas, dando origem a grandes concentrações de
habitantes em centros urbanos que não estavam preparados para recebe-las.
“Embora isso interessasse, em termos de baratear a mão de obra, não tinha como
dar educação, saúde etc.”, reitera Veiga.
O documentário traz ainda depoimentos da antropóloga Manuela
Carneiro da Cunha, dos arquitetos e urbanistas Paulo Ormindo e Marta Bogéa e do
educador Eduardo Cardoso. Eles falam sobre a diversidade de pensamentos e de
cultura em cidades com diferentes etnias, e sobre o reconhecimento do conflito
como necessário para se viver de modo civilizado e respeitoso nas urbes.