Os convidados de Fabiula Nascimento no programa “O País do
Cinema” desta quinta-feira (11/01), às 21h30, pelo Canal Brasil, são Hugo Prata
e Andréia Horta, diretor e protagonista de “Elis”. Eles conversam sobre a
escolha da atriz para o papel, o tom que quiseram imprimir no longa e
curiosidades dos ensaios.
Fabiula Nascimento e Andréia são muito amigas e eram vizinhas
quando o filme estava sendo rodado. Após um ensaio, Fabiula convidou Andréia
para bater papo em sua casa.
A intérprete de Elis Regina diz que é muito fraca para
bebida, normalmente bebe no máximo dois drinks, mas nesse dia, tomou 12 doses.
Fabiula revela curiosidades sobre esse encontro com a amiga: “Eu tive um show de
Elis Regina. Ela baixou na minha casa durante três horas. E ela levantou,
falou, esbravejou, chorou... Voltava a ser ela, mas na realidade não era porque
a voz não era da Andréia. Depois ela disse: “preciso ir embora, nunca bebi
desse jeito, não sei o que estou fazendo aqui”. E eu respondi que estava tudo
certo, a Elis já estava dentro dela, não tinha erro”, revelou.
Hugo conta que, em 2012, antes mesmo de o roteiro começar a
ser escrito, Andréia entrou em contato pedindo para interpretar Elis Regina. Em
um encontro, os dois perceberam que compartilhavam da mesma opinião sobre a
cantora e sobre a essência do que seria o filme, porém, quando chegou o momento
de começar a ensaiar, a atriz foi escalada para uma novela e precisou declinar
o trabalho no filme. Um mês antes das filmagens começarem, mudaram os planos da
produção da novela e ela voltou ao elenco.
“A Andréia conquistou a compreensão da personagem. Eu estava
atrás de uma atriz que tivesse uma carga dramática grande. A Elis é assim,
pessoalmente e cantando também. Ela é o cruzamento de uma técnica absurda com
força dramática intensa, é a Pimentinha. Essa densidade era o que mais me
interessa e a Andréia tem isso”, diz o diretor.
Andréia Horta confessa que ficou com medo de perder o papel,
pois várias atrizes ligavam para Hugo interessadas no posto. A mineira
acompanhou todo o processo de produção do filme desde o princípio e deu muitos pitacos,
inclusive no roteiro: “Uma das coisas que mais me interessava falar da Elis no
filme era sobre os discursos artísticos dela na ditadura militar. Os 20 anos de
carreira dela aconteceram durante a ditadura; a Elis não conheceu a arte livre
na democracia. Sempre houve veto e censura. Ela tinha um posicionamento
artístico que, infelizmente, é muito atual. Ela falava: “não podemos apenas
ficar dependendo do governo, temos que achar outro jeito”. E dizia que viria uma censura muito pior pela
frente, que é essa censura pós-ditadura do politicamente correto. A gente
queria falar dessa artista que, além de ser grandiosa, foi se tornando cada vez
mais incômoda no decorrer da ditadura”, frisa.
Na conversa, Hugo Prata conta ainda a dificuldade de
condensar toda a história de Elis em duas horas e como fez as escolhas do que
entraria e o que ficaria de fora do filme. Lançado em 2016, o longa teve a
primeira exibição no Festival de Gramado, no Rio Grande do Sul, terra natal da
cantora. A protagonista lembra que ficou muito apreensiva, mas todo o esforço
valeu a pena, pois foi premiada como melhor atriz na ocasião e também no Grande
Prêmio de Cinema Brasileiro em 2017 e recebeu o Troféu APCA de melhor atriz
pela Associação Paulista de Críticos de Arte.