Há menos de um mês o Parque Nacional da Chapada dos
Veadeiros, em Goiás, sofreu com a maior queimada da sua história. Foram mais de
sessenta mil hectares atingidos, o equivalente a 28% da área da unidade de
conservação. O incêndio mobilizou governos, corpo de bombeiros do estado de
Goiás e do Distrito Federal, a Força Aérea Brasileira, brigadistas e centenas
de voluntários do Brasil todo.
O “Caminhos da Reportagem” desta quinta-feira (09/11), às
22h, na TV Brasil, investiga as possíveis causas e as ações de combate ao fogo.
O programa mostra também como a mobilização de moradores, turistas e
voluntários foi fundamental para que a área atingida não fosse maior.
Um dos biomas mais antigos e ameaçados do planeta, o cerrado
está acostumado a lidar com o fogo, que faz parte do seu processo de renovação.
O doutor em botânica Abel Soares explica essa dinâmica.
"A vegetação de savana, historicamente, vem sofrendo com
o fogo. Então, é um processo natural do cerrado. Há milhares de anos, ele era
ocasionado por efeitos naturais, relâmpagos, grandes quantidades de matéria
orgânica no solo. Hoje em dia a gente pode relacionar o fogo aos fatores
humanos, que são as queimadas provocadas pelos fazendeiros, um pitoco de cigarro
jogado na vegetação", disse.
Durante entrevista para o Caminhos da Reportagem, o gestor do
Parque Nacional, Fernando Tatagiba, faz uma denúncia grave. "A gente pode
afirmar com 100% de certeza que esse fogo teve origem humana. Porque o fator de
ignição são os raios. E quando esse incêndio teve início, o céu estava azul,
não tinha nuvens, nem pra chuva, nem pra raios. Então, foi humana", afirma.
A investigação das origens do incêndio está sob a
responsabilidade da Polícia Federal, que ainda não se manifestou. O Ministério
Público Federal também abriu inquérito para investigar se o fogo foi ateado
intencionalmente ou não.
Se, de um lado, a ação do homem pode ter sido responsável
pela destruição, por outro, foi fundamental para que o fogo não avançasse. Centenas
de voluntários foram para a Chapada dos Veadeiros auxiliar o trabalho dos
brigadistas e dos bombeiros. Moradores se mobilizaram e transformaram suas
casas em pontos de apoio, recebimento de suprimentos e distribuição de
alimento.
"A gente foi se organizando a medida da demanda. A gente
montou uma equipe de cozinha. Uma das casas virou estoque. Todas as geladeiras
viraram estoque", conta Silvia Hennel, idealizadora do grupo Rede contra
Fogo e moradora da Chapada. A equipe também conversa com Ana Solange, produtora
rural que perdeu boa parte da sua propriedade.
Além da ação dos voluntários, o programa vai mostrar como a
vida dos moradores do entorno do Parque foi afetada pelo fogo, a discussão em
torno do aumento da área de conservação e as possibilidades de recuperação do
cerrado, bioma conhecido como “berço das águas”.