A volta para uma comida mais natural ou minimamente
processada, como era consumida por nossos antepassados, é o eixo do
documentário inédito Alimentação para o Futuro, que a TV Cultura exibe na próxima
quarta-feira (18/10), à meia-noite, e no domingo, 22 de outubro, às 22h30, na
semana de comemoração do Dia Mundial da Alimentação.
Dirigido por Valdemar Jorge, da Noturna Filmes, e realizado
com recursos do Ministério da Cultura e patrocínio do Atacadão, o especial
enaltece as várias culinárias brasileiras, em comparação com a de outros
países, como os Estados Unidos, onde a comida de verdade foi praticamente
abolida em favor de produtos industrializados. Mostra, também, que o futuro da
alimentação está na tradição cultural e nas hortas orgânicas, inclusive na
agricultura urbana.
O documentário, que teve a consultoria técnica da professora
e nutricionista Cláudia Treumann, passeia pelas várias regiões do país para
explorar e misturar os três grandes vértices da culinária nacional - o indígena,
o europeu e o africano – e mostra que uma alimentação saudável está sempre
associada ao uso de ingredientes frescos e disponíveis na natureza.
Alimentação para o futuro conta com depoimentos do médico
Carlos Augusto Monteiro, autor do Guia Alimentar do Brasileiro; dos professores
Romero Ximenes, antropólogo e sociólogo da UFPA, Jefferson Bacelar, do Centro
de Estudos Africanos da UFBA; Carlos Alberto Dória, autor de livro sobre a
formação da culinária brasileira; da historiadora Carolina Figueira ; do
agricultor orgânico Geraldo Rodrigues; da engenheira de alimentos da CEAGESP
(Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de SP) Anita Gutierrez; da
jornalista Cláudia Visoni, fundadora da Horta das Corujas; e do chef de cozinha
Alex Atala , de São Paulo.
A tradição indígena é bem representada na região Norte, em
Belém do Pará, onde o açaí, o guaraná e o tucupi ou técnicas como a puqueca, em
que peixes são assados em folhas de plantas, participam da alimentação cotidiana.
A influência africana se manifesta plenamente em Salvador, na Bahia, onde o
azeite de dendê é ingrediente dominante e se destacam pratos como o acarajé, o
efó e o caruru.
A força da culinária europeia aparece nos doces mineiros da
região de Ouro Preto. O tom geral é que a alimentação brasileira se sustenta
sobre essas três influências, que se articulam para criar uma culinária
nacional. O arroz e feijão, por exemplo, combinação clássica do prato
brasileiro, mistura o arroz trazido pelos europeus a partir do século XIX com o
feijão americano.
Alimentação para o futuro ouve também importantes chefs de
cozinha das três regiões visitadas que preparam um prato tradicional e falam de
suas experiências com ingredientes nativos. O premiado paraense Leonardo
Modesto, em Belém, exibe a preparação na puqueca de um peixe chamado filhote,
marinado em temperos como o cipó de alho e a alfavaca.
A chef Angélica Moreira, do restaurante Ajeum da Diáspora, em
Salvador, faz um efó, prato que ela define como “afetivo e familiar”, de origem
africana, que utiliza ingredientes como o camarão seco e a língua de vaca
(espinafre).
Já em Ouro Preto, no distrito de Santo Antônio do Salto, a
cozinheira Heloísa Moutinho prepara um prato clássico da cozinha mineira com o
umbigo de banana: angu, com feijão, couve e carne de porco.
O documentário detém-se também sobre o desperdício em toda a
cadeia de produção e comercialização dos alimentos. Essas perdas, muitas vezes,
estão associadas aos problemas banais como a estética de produtos agrícolas,
quando os mais feios são descartados porque estão fora do padrão de consumo. Na
Central de Abastecimento de São Paulo (CEAGESP), 1% das 11 mil toneladas de
alimentos comercializadas por dia é descartado.
O fenômeno das hortas urbanas, que começam a proliferar em
parques e áreas livres de grandes metrópoles, como São Paulo, e o consumo de
plantas alimentícias não convencionais (PANCs) ganham destaque.