Autor de “Zero” e “Não verás país nenhum”, o escritor e
jornalista Ignácio de Loyola Brandão é o entrevistado do programa “Conversa com
Roseann Kennedy” nesta segunda-feira (17/07), às 21h30, na TV Brasil. O
bate-papo envereda pelo universo dos romances, personagens, processo de criação
e memórias de um dos grandes nomes da literatura brasileira.
Entre romances, contos, biografias, histórias infantis e
juvenis, Loyola tem 40 livros publicados. No ano passado, recebeu o Prêmio
Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto
da sua obra. Também venceu o Prêmio Jabuti, com “O Homem que odiava a
segunda-feira”, em 2000, e “O Menino que Vendia Palavras”, em 2008.
Loyola diz que escrever é uma terapia. Ele faz das
recordações e da observação da realidade a sua matéria-prima. “Inspiração não é
uma pomba que desce e eu sento e escrevo um poema, nem dá um raio e eu sou
iluminado. Inspiração é o olho e o ouvido atentos a tudo em volta. E tudo você
vai pondo na cabeça. Inspiração é sequestrar a realidade”, afirma o escritor.
As primeiras lições de literatura que marcaram esse
paulistano de Araraquara foram recebidas ainda na escola primária. Loyola conta
que ele e os colegas eram incentivados pela professora Lourdes a ter sempre à
mão uma caderneta, onde deveriam anotar as palavras que não conhecessem e tudo
mais que lhes parecesse curioso ou interessante. Desde então, Loyola carrega um
bloco de anotação no bolso da camisa. Um dia desses, contou 5.900 cadernetas
guardadas em diferentes lugares da casa. “Fora as que eu perdi”, acrescenta o
escritor.
Dono de um estilo único, ele conta que não se preocupa com a
sequência dos fatos porque “a memória não tem uma lógica narrativa”. Ela “vai e
vem e você acaba entendendo” a história, explica. Na entrevista, Loyola
relembra fatos que marcaram a criação e a publicação de alguns dos seus livros
de grande sucesso. Quando escreveu “O beijo não vem da boca”, em 1982, “estava
tentando entender uma separação”, revela.
Ao concluir o romance, não encontrava um título adequado. “O
título para mim é sempre um problema”, assume. Até que um dia ele ouviu a frase
que daria nome ao livro de uma antiga namorada. “O beijo é uma espécie de
termômetro da relação”. Quando vira só um selinho, talvez seja a hora de buscar
outra história, propõe.
Se alguém o chama de nostálgico, Loyola discorda. “Não sou.
Eu uso o passado e trabalho com ele, mas eu não quero voltar para aquele
momento”, diz. Com 80 anos e uma rotina de trabalho que começa às 6h da manhã,
o escritor diz que o seu tempo é o agora e rechaça o saudosismo. “Eu odiaria
ter vinte anos porque foi uma época de angústia, de ansiedade, eu não sabia o
que fazer, no que eu ia trabalhar, não tinha a mínima ideia”, afirma.
Atualmente, Loyola escreve um romance inspirado no poema
“Pobre B.B.”, de Bertold Brecht.