O autor e apresentador Raphael Montes entrevista o escritor e
jornalista Marcelo Moutinho no programa “Trilha de Letras” desta quinta (25/05),
às 21h30, na TV Brasil. O convidado, que lançou este ano "Ferrugem",
livro que reúne vários contos sobre o cotidiano, bate um papo sobre esse
recorte feito pelos cronistas. Para debater o tema, a atração ainda traz o
depoimento do professor Renato Cordeiro Gomes e do cronista Joaquim Ferreira
dos Santos.
O Brasil tem uma tradição de bons cronistas. Lima Barreto,
João do Rio, Fernando Sabino, Rubem Braga e Nelson Rodrigues são alguns
exemplos. Combinação de relato com literatura, a boa crônica é aquela que pega
dentro do ordinário da vida cotidiana aquilo que é extraordinário.
Para Moutinho, além dos jornais, existem outros espaços em
que esse tipo de literatura está ganhando espaço. "A crônica clássica, da
observação subjetiva, hoje está na internet", afirma. "Eu leio amigos
de facebook que fazem crônica nos posts que eles estão publicando nas redes
sociais", pondera o escritor.
Os especialistas ouvidos pelo programa também refletem sobre
o "perambular" pela cidade que caracteriza o trabalho do cronista ao
observar a rotina. "Acho que a cidade perdeu uma de suas grandes maravilhas
que é o andar pela cidade. Ela perdeu as calçadas. Essa é minha grande tristeza
e nostalgia. Olhar o que você quiser: as vitrines, as mulheres, os
acontecimentos, qualquer coisa", comenta Joaquim Ferreira dos Santos.
O conceito de flâneur" é explorado pelo pesquisador e
professor Renato Cordeiro Gomes. "O lugar do flanêur é a rua. Ele
transformava a rua na sua casa. Isso vai acabando. Não dá para flanar na
Barra da Tijuca ou em uma via expressa", pontua.
Marcelo Moutinho não é tão apocalíptico. "A potência da
cidade está nas suas diferenças", ressalta o escritor que não se considero
um flâneur. "Gosto muito de caminhar pelas ruas, principalmente no
centro da cidade", admite.
Para explicar o papel do flâneur, ele faz uma comparação.
"Na floresta, você tem que aguçar os sentidos. Você procura um caminho
para trilhar. Já na cidade, você fica cego de tanto vê-la. A cidade acaba
sendo uma paisagem inerte na qual a gente transita", completa Marcelo
Moutinho no estúdio da TV Brasil.
O Trilha de Letras destaca que muito já se discutiu se a
crônica é ou não um gênero literário; ou se é um gênero literário menor devido
à sua relação direta com o jornalismo e os fatos concretos. Marcelo Moutinho
discute como anda esse texto comum em jornais que também está em livros e até
na televisão, no tempo contemporâneo.
No quadro "Leituras com Katy", a jornalista Katy
Navarro recomenda a leitura da obra "18 crônicas e mais algumas"
(2011), livro da jornalista, psicanalista e escritora Maria Rita Kehl.