Na semana em que se comemora o Dia do Índio, lembrado na
quarta (19/04), o programa “Conversa com Roseann Kennedy” entrevista o
jornalista Rubens Valente, da Folha de São Paulo, nesta segunda (17/04), às
21h30, na TV Brasil.
Com dois Prêmios Esso em seu currículo, o repórter Rubens
Valente fez uma minuciosa investigação e pesquisou documentos e jornais de
época para recontar as tragédias esquecidas dos índios brasileiros em seu livro
"Os Fuzis e as Flechas: História de Sangue e Resistência Indígena na Ditadura".
A obra traz à tona os erros e omissões do estado e relata as
barbaridades cometidas contra os povos indígenas durante a ditadura militar.
Com pesar, o autor comenta as perdas humanas no período.
"Nós tivemos etnias que perderam 90% dos seus índios
como os Kararaô, que é um subgrupo dos Kayapó. Então o resultado, às vezes foi
um genocídio. Mas com isso, eu não quero dizer que houve uma decisão de
genocídio, o resultado era genocida", avalia o jornalista.
Para relatar essas histórias, Rubens analisa em seu livro o
contexto da época. "Havia um projeto desenvolvimentista militar, esse
projeto foi adotado pela ditadura como uma meta", diz.
Durante esse período, o chamado "progresso" era
considerado prioridade e envolvia grandes obras como a construção de estradas, hidrelétricas
e a ocupação da Amazônia. Sobre isso, o jornalista explica a dinâmica dessa
disputa desigual entre os militares que tomaram o espaço dos povos indígenas.
"Era uma disputa por território. Os militares queriam
acesso às terras que os índios habitavam. Era uma guerra por terra. Eu brinco
dizendo que se os índios habitassem a Lua, talvez eles não sofressem tanto
preconceito, tanta intolerância. Na verdade é uma guerra econômica, uma guerra
por espaço", comenta.
No diálogo com a jornalista e apresentadora Roseann Kennedy
na TV Brasil, o escritor denuncia que as autoridades da época encobriram
informações sobre os crimes contra os povos indígenas.
"Houve sim mortes de índios por militares, por arma de
fogo. São fatos que se ocorressem hoje, no Brasil, certamente mobilizariam a
opinião pública. São fatos de extrema gravidade e que na época não eram tão
narrados. Eu concluo que houve uma estratégia de acobertamento", afirma.
Para realizar a obra e relevar um passado desconhecido pelos
brasileiros, Rubens Valente entrevistou índios, sertanistas, indigenistas,
militares e missionários. Mesmo com um capítulo destinado aos indígenas na
Comissão Nacional da Verdade, que pretendia apurar graves violações de direitos
humanos cometidas contra esses povos, o autor conclui que ainda há uma imensa
dificuldade por parte do Estado brasileiro de reconhecer as mortes e reparar os
danos causados.
Uma realidade distante dos ideais praticados pelo eterno
sertanista, Marechal Rondon, que Rubens Valente também relembra nesta
entrevista. "Morrer se preciso for. Matar, nunca. Se um índio te ataca,
Rondon dizia: Você deve morrer, mas não matar, porque ele está defendendo a sua
terra e são duas culturas totalmente diferentes", explica o repórter.
O programa Conversa com Roseann Kennedy tem horários
alternativos na TV Brasil na madrugada de segunda para terça às 2h45. A atração
jornalística também vai ao ar aos domingos, às 19h30.