Nesta sexta-feira (28/11), às 21h30, o documentário Paraíso
estreia no Curta!. A produção analisa o livro Casa Grande e Senzala, de
Gilberto Freyre, lançado em 1933. O estudo se tornou, entre críticas e elogios,
referência na compreensão da formação da sociedade brasileira e, especialmente,
de suas relações raciais.
O longa é uma produção original do Curta!, viabilizada
através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) para estreia no canal. Com
direção de Ana Rieper, a produção é da Paladina Filmes, com narração da atriz
Elisa Lucinda. Com imagens de arquivo, depoimentos inéditos e trechos do livro
de Freyre, o documentário discute o mito da democracia racial com uma narrativa
artística que liga o presente ao passado.
Num país de contrastes e símbolos marcantes, o documentário
usa imagens de arquivos que sobrepõem a elegância de eventos sociais em locais
como o Copacabana Palace, com o caos urbano, como as batidas policiais nos
ônibus que deixam a praia, a poucos metros do hotel. Dos desfiles de moda à
vigilância policial, a obra revela como a sociedade tenta mascarar suas
contradições.
‘A família, não o indivíduo nem tampouco o Estado, nem
nenhuma companhia de comércio, é desde o século XVI o grande fator colonizador
no Brasil. A força social que se desdobra em política constituindo-se na
aristocracia colonial mais poderosa da América’, analisa Gilberto Freyre no
livro.
Intercalando trechos do livro com depoimentos de
trabalhadores, que relatam suas histórias e desafios, o filme debate temas como
latifúndio, exploração, conflitos rurais, classe social e escravidão.
‘Três horas da manhã tem de sair para trabalhar por 45
reais. Será que é justo? Isso é um escravo. Não fornecem equipamento, nada, nem
comida, que a gente leva de casa. E indígenas como nós ficamos acuados, vamos
fazer o que? Quem olha por nós?’, questiona um trabalhador indígena.
As teorias de Freyre se tornaram base de muitos estudos e o
mito da democracia racial se consolidou. Diante dos códigos sociais e estéticos
que preservam as estruturas de classe e raça no país, a ideia da harmonia
racial mascarou violências e preconceitos que seguem marcando a sociedade
brasileira.
‘As diferentes experiências de liberdade também foram
atravessadas por uma diferente condição que marcou nossa história desde muito
cedo: a miscigenação. Não estamos falando do Brasil brasileiro cantado nos
versos de Ary Barroso. Era uma mestiçagem originada em uma sociedade patriarcal
e escravocrata onde violência sexual contra mulheres negras e indígenas eram
frequentes, constituindo mais uma forma de dominação’, enfatizou Freyre.