Muitas das discussões, desafios e problemas globais
contemporâneos foram antecipados por Frantz Fanon. Em seu livro Os Condenados
da Terra (1961), o intelectual fez um estudo sobre o colonialismo e seus
pensamentos são destacados na segunda parte do documentário ‘Frantz Fanon:
Sobre a Violência’, que estreia nesta quinta-feira (27/11), às 22h, no Curta!.
No filme de Göran Hugo Olsson, narrado por Ms. Lauryn Hill,
imagens que mostram o cotidiano de violências nas antigas colônias europeias na
África são combinadas com os textos de Fanon. Na segunda parte do filme, as
estruturas de poder que submetem os povos nativos a condições degradantes são
detalhadas, apresentando caminhos para criar perspectivas revolucionárias.
Se atualmente temas como justiça climática e superexploração
da natureza estão em voga, o livro de Fanon, publicado há meio século,
contribui com análises relevantes. Ao registrar técnicas de extração que rasgam
as terras africanas, o documentário mostra como o colonizador explora a força
de trabalho estrangeiro e suas riquezas naturais para enriquecer a metrópole.
‘O opressor inicia o processo de dominação, de exploração e
de roubo. Em outra esfera, a criatura retorcida e espoliada, que é o nativo,
abastece o processo ao máximo. O processo segue ininterruptamente, dos bancos
do território colonial aos palácios e às docas da pátria-mãe’, denuncia Fanon.
O documentário exibe imagens das lutas pela independência na
África. Ao acompanhar as táticas e ideais como os da Frente de Libertação de
Moçambique, a produção aborda as teorias de Fanon sobre o uso das forças
simbólicas e militares para oprimir a população local. Enquanto as tropas
portuguesas destroem plantações para causar fome, sobrevoam os territórios com
aviões de bombardeamento, estratégia não só para destruir infraestruturas, mas
para desmobilizar as forças independentistas.
‘Decidimos ir mato adentro porque vimos as ações do
colonialismo. São 500 anos de escravidão. Pedimos pacificamente pela
independência, mas eles não se importaram, nos massacram’, depõe uma
guerrilheira moçambicana.
Imagens da guerra de independência da Guiné-Bissau reforçam
o horror. Para Fanon, presos e violentados em suas próprias terras, resta à
população o uso da força para se livrarem do complexo de inferioridade e
restaurarem o amor-próprio. Para o humanista, o caminho para a libertação passa
por novos caminhos que não repitam os fracassos do capitalismo europeu.
‘A condição humana, os planos para a humanidade e a
colaboração entre os povos nessas tarefas que aumentam a totalidade da
humanidade são problemas novos, que demandam invenções verdadeiras. Vamos
combinar nossos músculos e cérebros em uma nova direção. Vamos tentar criar o
ser humano no todo, o qual a Europa foi incapaz de fazer nascer de forma
triunfante’, defende.
Frantz Fanon: Sobre a Violência é uma produção da Final Cut
for Real e Helsinki Filmi.