Os dados sobre religião do Censo de 2022 mostram o aumento
significativo, nas últimas décadas, do número de fiéis evangélicos no Brasil. A
edição do “Caminhos da Reportagem” nesta segunda-feira (30/06), às 23h, visita
diferentes igrejas espalhadas pelo país.
A primeira parada da jornalista Luciana Barreto foi na Casa
da Benção, localizada em Mesquita, região metropolitana do Rio de Janeiro. De
origem pentecostal, a Igreja foi fundada em 1964 e, hoje, conta com mais de
2000 igrejas espalhadas pelo Brasil e em outras partes do mundo.
André Ferreira é empresário e pastor na Casa da Benção.
Nascido em uma família católica, a mudança de religião da família começou pela
mãe: “A minha mãe era desenganada pela medicina porque sofria do coração. Foi
aí que ela resolveu procurar ajuda numa igreja evangélica. Foi quando conheceu
a Casa da Benção”. José Luiz Ferreira, pai do André, encontrou na Igreja um
caminho para os problemas de alcoolismo: “Deus transformou a nossa vida, então,
eu pelo menos me sinto realizado com a minha família, tanto na presença de
Deus”.
O teólogo e diretor do Instituto de Estudos de Religião
(Iser), Ronilso Pacheco, ressalta que “a sociedade brasileira tem uma marca de
religiosidade muito forte, sobretudo nas classes populares que vai lendo as
dificuldades da vida a partir de lentes muito espiritualizadas e muito
religiosas”.
Em Búzios, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, a equipe
de reportagem da TV Brasil visitou o Quilombo de Baía Formosa, um território
formado originalmente pela antiga Fazenda de Santo Inácio dos Campos Novos,
onde, atualmente, vivem cerca de 130 famílias. Na década de 1970, parte do
quilombo foi desterritorializado, dando origem a um processo de luta e
resistência. Em 2022, a comunidade recebeu uma doação das terras, feita por
fazendeiros da família Cunha Bueno, em um ato de reparação histórica.
O Quilombo de Baía Formosa é um dos inúmeros locais no Brasil
que mantêm expressões culturais praticadas por seus antepassados, ainda que,
assim como muitos outros, não se apoie nos mesmos referenciais das religiões de
matriz africana. Para Elizabeth Fernandes Teixeira, quilombola e presidente da
associação cultural do Quilombo de Baía Formosa, o fato de ser evangélica não
interfere: “A gente já nasce sendo indígena ou quilombola, né? E a nossa
religião a gente escolhe. Nós escolhemos ser evangélicos, mas em momento nenhum
a gente deixou que interferisse [em nossa cultura]. Pelo contrário, isso só
somou”.
Enquanto prepara a feijoada para a equipe de gravação, o
quilombola Renam fala da ausência de preconceito entre a comunidade e os que lá
visitam “A maioria acha que quando a pessoa diz quilombo, acha que é uma coisa
ligado a candomblé, mas não tem nada a ver. Aqui é um lugar que vem pessoas da
Igreja, pessoas de vários tipos de religiões”.
Em Piraí, localizado no Vale do Paraíba Fluminense, a equipe
visitou dois assentamentos do MST – o Movimento dos Sem Terra: o Rosali Nunes,
onde vivem 39 famílias; e o Terra da Paz, com 34 famílias. Embora não existam
pesquisas que comprovem o aumento de adeptos da religião entre os integrantes
do MST, Ronilso explica que “é notório o crescimento da presença evangélica em assentamentos.
O MST muda um pouco da sua pedagogia, da sua estrutura, pensando na presença
desse público evangélico”.
O agricultor Antenor Gil de Souza, morador do Assentamento
Terra da Paz, conta como a fé o ajudou na luta pela terra: “em todos os acampamentos
por onde eu passei, se não tivesse congregação, eu abria. Porque na congregação
você vai falar de amor, vai falar de consideração, de respeito, de estima.
Então, nós estamos lutando aqui, lutando pela terra, Sem Deus eu acho que nós
não conseguiríamos absolutamente nada. Isso eu tenho plena convicção. Sou fiel
nisso. Eu tenho certeza que nós não chegaremos a lugar”.
Sirlei Maria Lopes Gil de Souza, também agricultora e esposa
de Antenor, faz questão de falar que o MST não se envolve em religião: “nós
temos diversidades de religiões dentro do MST. Não existe preconceito em
absolutamente nenhum tipo de situação”.