Nesta terça-feira (30/07), às 22 horas, no “Provoca”, Marcelo
Tas recebe Kiusam de Oliveira, educadora, doutora em educação e escritora de
diversos livros infantis que tratam sobre o racismo na sociedade, como O Mundo
no Black Power de Tayó, considerado pela ONU um dos dez livros mais importantes
do mundo na categoria Direitos Humanos. Eles conversam sobre o uso da
literatura para combater o racismo e educação antirracista.
“A pessoa negra tem dificuldade de sonhar porque a vida de
uma pessoa negra normalmente está associada à miséria, pobreza, tudo tem que
ser muito rápido. Eu vou trabalhar hoje, receber como diarista hoje, para pagar
a mistura que eu vou levar para casa. Cadê o tempo de sonhar? (...) as crianças
que têm o hábito de colocar fraldinha amarrada no pescoço e dizer que ela é o
super-homem, subir no trepa-trepa e vai se esborrachar, e a gente vai ter que
sair correndo para levar para um posto de saúde porque ela acreditou que ia
voar, nunca aconteceu comigo nesses 38 anos com uma criança negra”, conta.
Em outro momento da edição, Kiusam fala sobre a educação
antirracista e a importância da questão racial ser estudada e debatida não
somente pelos brancos. Tas pergunta se ocorre uma regressão. “Para mim sim, tem
um período muito marcado na nossa história (...) onde as pessoas brasileiras
começaram a se achar no direito de dizer: você é preta mesmo, você é macaca
mesmo, não quero ser atendida por tal empregador de alimento porque é preto
(...) esse momento dessa abertura para ser violento foi em 2017, 2018”, afirma.
A educadora ainda responde, no programa da TV Cultura, uma
pergunta de internauta sobre o que ela espera das pessoas brancas. “Eu espero
que vocês abram portas. Da mesma forma que as pessoas brancas fecharam portas
para uma infinidade, milhares de corpos negros historicamente falando. Espero
que seja um momento de consciência e de abrir portas porque vocês chegam em
lugares que nós não chegamos, às vezes até sem mérito, mas chegam. Então, do
local que vocês estão, da posição que estão, como você, vamos ver quem é essa
Kiusam (...) colocar em circulação no canal de comunicação, mas também circular
o dinheiro porque nós nos alimentamos, a gente precisa (...) o branco chama a
gente para fazer palestras e quer que seja tudo pela militância, quando a gente
sabe que a amiga da gente escritora foi lá recebendo no mínimo 5 mil reais, mas
a Kiusam vem pela militância (...) se você paga 10 mil para ela, paga os 10 mil
pra mim”, ressalta.