Nesta terça-feira (09/04), às 22 horas, no “Provoca”, Marcelo
Tas entrevista o físico e neurocientista Dráulio Araújo que comanda
experimentos com DMT (dimetiltriptamina) na UFRN (Universidade Federal do Rio
Grande do Norte).
No programa da TV Cultura, o cientista conta como são feitas
as pesquisas com substâncias psicoativas, fala sobre a importância dos
pacientes responderem rapidamente a intervenção com ayahuasca, dá sua opinião
sobre a liberação das drogas, entre outros assuntos.
O cientista explica que começou a trabalhar com pacientes que
tinham depressão resistente ao tratamento. “São pacientes que já tentaram pelo
menos duas medicações antidepressivas e não responderam. Só para você ter uma
ideia da gravidade desses pacientes, quando você procura um primeiro tratamento
para depressão, você tem 50% de chance de responder àquele tratamento; se você
não respondeu, você volta na psiquiatra e ela vai fazer ajuste de dose. Não
respondeu ainda, vamos mudar a medicação. Quando você muda a medicação, sua
chance cai para 30% de resposta. Se você tentou duas vezes e não respondeu,
você tem 10% de chance de responder a qualquer coisa que a gente tenha no
mercado”, diz.
“Esses foram os pacientes que a gente começou a trabalhar
primeiro com ayahuasca e, mais recentemente, com a DMT. A gente trazia esses
pacientes para o hospital, fazia uma intervenção e acompanhava os sintomas de
depressão desses pacientes por alguns dias. O que a gente encontrou? Primeiro
que existe uma resposta. Uma boa parte deles respondeu ao tratamento com
ayahuasca. Mas aí tem uma segunda característica que é ainda mais interessante,
é que a resposta foi rápida. Um dia depois da intervenção, as pessoas já
estavam melhores. Por que isso é importante? Porque todas as medicações
antidepressivas que a gente tem no mercado hoje demoram na ordem de 15 dias
para começar a fazer efeito. Então, ter uma medicação com resposta rápida é
importante”, ressalta o neurocientista.
Em outro momento da edição, Dráulio responde a uma pergunta de
internauta sobre a liberação das drogas. “Eu diria que drogas a gente não pode
tratar como um único sujeito. Vamos pensar, por exemplo, no Oxycontin,
americano. É um exemplo típico de uma droga prescrita que já tem nas suas
costas mais de 500 mil overdoses. Ela é prescrita, usada de forma abusiva, é um
opioide muito poderoso. Por outro lado, a gente vê no Brasil a proibição de uma
planta. Quem a gente pensa que é, né, Tas? De dizer, essa planta aqui não pode
nascer no jardim (...) então, o que é legalizar as drogas? A gente precisa ter
a clareza de onde estão os limites das diferentes substâncias. É um exagero eu
proibir uma planta de nascer no meu jardim. Mas não é um exagero talvez eu
dizer, assim como eu falo para o álcool, que não é recomendado que uma pessoa
com menos de 18, 20, 21 anos faça uso daquela substância. Acho que dentro de
uma sociedade mais racional, por assim dizer, a gente precisa caminhar para entender
aonde estão os limites, e a ciência de certa maneira contribui muito para
estabelecer esses limites”, conclui.