O “Caminhos da Reportagem” inédito que a TV Brasil exibe
neste domingo (18/02), às 22h, conta histórias de mulheres que perderam bebês e
como elas enfrentaram o luto.
Natasha Kurtzenbaum, psicóloga e empresária, perdeu o filho
Pedro uma semana antes da data prevista para o parto. “Era uma sexta-feira e a
gente foi fazer uma ecografia. O coraçãozinho dele não estava mais batendo. Foi
um choque. Na hora que acontece a perda, você não acredita”, conta.
Fragilizada, Natasha ainda teve que optar entre o parto normal
ou a cesárea do filho que havia partido. Após a cirurgia, teve vontade de vê-lo
e pegá-lo no colo. Mas, no hospital, alegaram que ele havia sido levado para um
local muito longe de onde Natasha estava internada.
“Estava recém-operada, minha mãe estava comigo no hospital.
Meu esposo foi atrás do processo do cemitério. Naquele momento, eu pensei:
quero ver o Pedro. Isso é o mais difícil de tudo, não ter visto, não ter
sentido o cheiro. Porque, depois, quando você começa a compreender o processo
do luto, entende que essa criação de memórias faz parte. Todo mundo viu meu
filho, menos eu”, desabafa.
A psicóloga Luiza Geaquinto explica a importância da mulher
ser orientada sobre seus direitos no momento de uma perda gestacional ou
neonatal. “A importância de ela entrar em contato com o seu bebê, pegar no
colo, tocar, se ela quiser vestir, mostrar pra outros familiares... A
literatura tem mostrado que mães que entram em contato com o seu bebê conseguem
elaborar melhor esse luto posteriormente, porque ela consegue ressignificar
esse momento”, diz.
A carioca Amanda Melo perdeu seu filho após ter complicações
no parto. “Enrico nasceu em uma tentativa de parto normal mal administrada.
Hoje, eu acho que eu vivi uma violência obstétrica. O parto normal foi revertido
em uma cesárea e o Enrico nasceu em parada cardiorrespiratória. Viveu 47 dias e
se foi, se libertou dos aparelhos do CTI (centro de terapia intensiva) e foi viver
uma vida em outra dimensão”, conta.
Amanda revela que viveu o luto ao lado do marido e da filha
Beatriz, que tinha 4 anos à época. “Ela foi o nosso farol. A gente atravessou
porque tinha ela iluminando esse percurso super difícil. Bia é uma menina que
honra desde sempre a existência desse irmão. É ela que me lembra, quando alguém
me pergunta quantos filhos eu tenho, de falar do Enrico, que ele existiu e faz
parte da nossa família”, pondera.
A psicóloga Camila Altavini ressalta a importância do
acolhimento dos irmãos no caso de uma perda. “Inserir essa criança, explicar
para ela o que que significa essa perda e ajudá-la também a processar como uma
perda de alguém que faz parte da família”, afirma.
A mineira Paula Beltrão é fotógrafa e, ao longo da carreira,
se especializou em registrar partos. Um dia foi procurada por uma cliente que
estava grávida de um bebê com uma doença incompatível à vida. “E ela me
contratou para registrar esse nascimento, disse que seria o momento dela com o
bebê, o momento da despedida. E disse que queria ter esses momentos eternizados
através de um registro fotográfico, com um olhar de carinho. Esse bebê viveu
uma hora e 20 minutos. Ele partiu no colo da mãe, muito sereno, em um ambiente
de muito amor”, diz.
Paula faz parte do Grupo Colcha, um grupo de apoio à perda
gestacional e neonatal, sediado em Belo Horizonte. Entre as ações de apoio às
famílias enlutadas, está o “kit memória”, uma caixa com registros do bebê que é
entregue às famílias acolhidas. Dentro da caixa, além de uma fotografia do
bebê, a mãe recebe um quadrinho com a imagem do pezinho do bebê carimbado, um
saquinho com uma mecha do cabelo e dois passarinhos de crochê, símbolo do
grupo. “A gente orienta a família a deixar um passarinho dentro da caixinha e o
outro deixar no caixãozinho com o bebê quando ele é enterrado”, explica.