A escritora mineira Conceição Evaristo é entrevistada pela
apresentadora Eliana Alves Cruz no programa “Trilha de Letras” desta quarta-feira
(15/11), às 22h, na TV Brasil.
O papo resgata o conceito de escrevivência, criado pela
autora. Entre outros temas, ela aborda a memória, a importância de grandes
figuras femininas na sua trajetória e a força da literatura como agente de
transformação. O conteúdo tem uma versão transmitida pela Rádio MEC mais tarde,
às 23h.
A autora faz questão de ressaltar o ineditismo do encontro.
"Estamos vivendo uma fase que tem sido muito benéfica. É a primeira vez
que estou em um programa de televisão sendo entrevistada por uma escritora
negra", celebra.
O compromisso com o público que se interessa pelo que ela
escreve é um dos temas em pauta. "Quem me confere o status de escritora
não é o meu texto isolado. É a leitura na medida em que o livro é apropriado e
lido. É quem está me lendo e se sente reduzido pelo meu texto", pontua.
Vencedora do Jabuti, Conceição Evaristo redigiu sucessos
literários. Ela é autora de obras como os romances "Becos da Memória"
(2006) e "Ponciá Vicêncio" (2003) e o livro de contos "Olhos
d’água" (2014). Durante a produção, ela lê um trecho de "Canção para
Ninar Menino Grande" (2022).
Conceição Evaristo ressalta a oralidade presente em sua
produção literária. "A oralidade é uma senha fundamental para a minha
literatura e eu diria que é um projeto estético. Quero criar meu texto o mais
próximo possível da linguagem oral", afirma.
Em sua obra, Conceição Evaristo desenvolve diálogos com base
na gramática do cotidiano. Para a convidada, é preciso respeitar as diferentes
formas de se apropriar da língua portuguesa.
O programa abre espaço para ela esmiuçar a sua escrevivência.
A contista, poeta, romancista e teórica fala sobre o conceito que se tornou
objeto de estudo e um marco ao se referir à literatura que fala e se compromete
com a realidade de uma mulher negra em uma sociedade desigual.
Nesta edição do Trilha de Letras, Conceição Evaristo comenta
o reconhecimento, que demorou a vir. "Sempre duvidaram que nós tivéssemos
capacidade de fala", critica, ao falar sobre os desafios impostos às
mulheres negras.
Sobre sua relação com a Academia Brasileira de Letras - a
mesma ABL que recusou sua candidatura ao posto de imortal com apenas um voto na
polêmica eleição, Conceição Evaristo é franca. Ela celebra a entidade escolher,
recentemente, o indígena Ailton Krenak para uma das cadeiras e pontua a
tendência de abertura da centenária instituição aos novos tempos.
"A entrada do Krenak me deu uma esperança muito grande,
uma satisfação, mas também uma sensação de dever cumprido. A minha candidatura,
quando eu tive um voto, e o fato de ela ainda ser comentada, não foi um
trabalho perdido", argumenta sobre a campanha.
Conceição Evaristo prossegue no raciocínio. "As pessoas
ficaram muito frustradas, até mais do que eu. A candidatura obrigou a própria
Academia a repensar. Incomodou a Academia. Eu não tinha essa intenção. O
importante não é ser a primeira (mulher negra na ABL). O importante é abrir perspectiva",
conclui.
No quadro "Dando a Letra", espaço do programa que
traz uma dica semanal de leitura, a booktuber Ad Novaes recomenda o título
"Mariposa Vermelha", livro de fantasia redigido pela pernambucana
Fernanda Castro para adultos. Repleta de reviravoltas, a sedutora trama oferece
uma narrativa envolvente.