“Hip hop - 50 anos de cultura de rua” é o tema do programa “Caminhos
da Reportagem” inédito que a TV Brasil exibe neste domingo (12/11), às 22h. A
atração jornalística da emissora pública destaca que no ano em que se comemora
meio século do surgimento do hip hop, também se celebra os 40 anos deste
movimento no Brasil.
No Brasil, a chegada do hip hop está relacionada à dança que
acontecia na esquina entre as ruas 24 de Maio e Dom José de Barros, no centro
de São Paulo. Era 1983 quando Nelson Triunfo, dançarino de breaking e figura
pioneira do hip hop no Brasil, começou a dançar na rua e a sentir o impacto da
repressão policial durante o Regime Militar.
Os dançarinos migraram para outro espaço: o Largo São Bento,
no entorno da estação de metrô. É na São Bento que surge a primeira coletânea
de hip hop do país, com gravações de nomes como Thaíde e DJ Hum, Sharylaine e o
grupo O Credo. Ponto de encontro de b-boys e b-girls, grafiteiros, DJs e MCs, a
São Bento também é o local em que KL-Jay e Mano Brown se conhecem e criam os
Racionais MCs, um dos principais grupos de rap do Brasil. KL-Jay comenta sobre
o que era esperado deles. “Falar de polícia, de racismo, violência, isso aí é
só lá nos Estados Unidos. Aqui no Brasil é alegria, todo mundo quer alegria.
Falaram isso pra gente na nossa cara. E a gente falou que não dá não”, revela.
No sul do país, ainda nos anos 80, Porto Alegre também foi
palco da efervescência do hip hop. Com uma trajetória que começou nos bailes
black no final dos anos 70 na periferia de Porto Alegre, DJ Nezzo comenta sobre
o início do hip hop na cidade: “nós consideramos, aqui, o nosso ponto de
referência é a primeira roda de breaking na Rua da Praia em 1983”.
Conhecido como o poeta do rap nacional, o rapper Gog destaca
que “o hip hop é música preta” e o grande sucesso da cultura no Brasil se dá
porque “traduziu no dia a dia o que as pessoas falavam de forma complexa e
complicada”. Rincon Sapiência, um dos expoentes da cultura hip hop
contemporânea, fala que “sempre é uma luta de alguma forma. Então ele (o hip
hop) sempre contemplou aqueles menos ouvidos, menos representados”.
Eugênio Lima, DJ, ator-MC e pesquisador, compreende o hip hop
enquanto tecnologia de pensamento, “ela abre as portas pra juventude periférica
porque abre a possibilidade de você narrar sua própria história, de ter a
possibilidade do direito sagrado de rimar sua própria vida”.
Em junho, representantes do hip hop de vários estados
participaram de uma marcha em Brasília, em busca de reconhecimento como
patrimônio cultural e imaterial do país. O grupo da Construção Nacional da
Cultura Hip Hop elaborou um decreto de reconhecimento e fomento da cultura que
deve ser assinado pelo presidente Lula. O rapper Rafa Rafuagi comenta que a
assinatura do documento permitirá recursos que irão diretamente para as
periferias e que “o que a gente tá fazendo são expertises por ter vivido e
viver dentro das periferias trazendo essas possibilidades que hoje muitos
gestores inclusive veem o hip hop como protagonista dessa mudança”.